Património
Pavia é uma pequena povoação alentejana do distrito de Évora. É sede de Junta de Freguesia do Concelho de Mora, já tendo sido sede de concelho, desde data indeterminada e até 1838, ano em que surge uma carta de lei de 17 de Abril que transfere a sede do concelho para Mora.
Actualmente, Pavia abrange uma área geográfica superior a 190 Km2. Situa-se a cerca de 150 Km de Lisboa. As estradas que passam por Pavia levam-nos para Mora a norte, para Arraiolos e Évora a sul, para o Vimieiro e Estremoz a este e para Avis a nordeste.
Para além do núcleo principal, a freguesia de Pavia inclui também um outro agregado populacional a cerca de 5 Km: a Malarranha. No seu conjunto a população residente ronda actualmente os 1600 habitantes.
De características tipicamente alentejanas, pois já se encontra muito afastada do Ribatejo, encontra-se cercada de uma paisagem a perder de vista e, onde se avistam pequenos pontos brancos, os típicos Montes Alentejanos. Pavia mantém ainda hoje o rosto do povoado antiquíssimo que é, dominado pelas construções de um só piso, portais à escala humana e chaminés ressaltadas com volumes típicos. Nesta vila viveram dois grandes homens, bem conhecidos no país, Fernando Namora, que para além da profissão de médico, que exerceu nesta terra, também escreveu sobre estas gentes e sobre as lindas paisagens que espreitam a vila de Pavia. Um outro grande homem foi o pintor Manuel Ribeiro, que posteriormente adoptou o nome da vila, ficando desta forma Manuel Ribeiro de Pavia. Deixou-nos um museu com vários originais, que são visitados por inúmeras pessoas.
O agregado populacional de Pavia é o mais antigo do Concelho. Uma das provas que permite afirmar a antiguidade do povoamento desta localidade é a existência de inúmeros registos megalíticos.
Património: Igreja Matriz, Ermida de S. Miguel, Anta - Capela de S. Dinis, Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia, Ermida de S. Francisco, Igreja da Misericórdia, Ermida S. Gens/Madre Deus, Igreja de Santo António, Ponte Mediaval, Os Paços do Concelho, Monumento alusivo à passagem do milénio.
Anta de Pavia
No capítulo artístico e arquitectónico poucos edifícios monumentais asseguram uma gloriosa evocação histórica a Pavia, abstraindo a igreja matriz, mas a circunstância de estar situada em pleno epicentro da zona neolítica atentamente estudada pelo malogrado Prof. Virgílio Correia em 1914-15, garante-lhe, a par de Montemor-o-Novo, uma importância arqueológica impar no campo da investigação das ciências naturais peninsulares.
A atestar esta vivência humana em tempos pré-históricos, (para alem de muitas outras construções megalíticas nos campos circundantes) existe em pleno coração da terra uma das maiores antas de Portugal, cujo recinto e câmara têm 4,30 m de diâmetro, 3,30 m de altura e o capelo o volume de 3 x 2,60 m.
Deste dolmen monumental, consagrado a templo cristão em época antiga mas desconhecida, anteriormente a 1625, data em que já existia com a designação de S. Dinis, sairam das escavações com destino ao Museu Arqueológico de Belém, várias peças de cerâmica e placas-ídolos de lousa e sentido iconográfico do paganismo.
A câmara-nave, de planta circular, como tronco de pirâmide, abraçada por sete esteios megalíticos e chapéu graníticos, multisecular, em plena rusticidade, é apenas decorada, no eixo fundeiro, por moderno quadro cerâmico representando o padroeiro, que substitui, infelizmente, desaparecido painel mural de incáustica e carácter seiscentista. Subsiste, todavia, o frontal do altar, de azulejaria monocroma e do tipo oficinal barroco de cª 1730, guarnecido com barras ao modo de brocado e por tema central bucólico.
Igreja Matriz
Notável é a IGREJA MATRIZ dedicada ao APÓSTOLO S. PAULO, que se situa no ponto mais elevado do extremo setentrional da vila, e que esteve encerrada desde fins do séc. XV ao período seiscentesco, por amuramento de taipa e cortina de ameias, ordenado pelos donatários, com quatro portas góticas, desaparecidas e dominado, ao ocidente, pelo paço velho dos condes de Borba, que era obra de arquitectura palaciana da tipologia manuelina alentejana do género fortificado.
Vítima de grande incêndio nos começos desta centúria, a antiga casa forte, então já muito arruinada, sofreu total remodelação que lhe imprimiu a silhueta actual, obra determinada pelo lavrador Joaquim Rebelo Arnault.
Templo-fortaleza de arquitectura híbrida sacro-profana dominante na região a partir do reinado de D.João II e atingindo especial originalidade em tempos de D. Manuel I, oferece particular interesse geral e é protegido, nos prospectos laterais, por sete torrelas cilíndricas sobrepujadas de cones estilizados: coroa de merlões do tipo muçulmano.
O monumento deveu-se, em fundação, ao Iº conde D. Vasco Coutinho, célebre nas campanhas marroquinas e os acabamentos a seu filho D. João Coutinho, casado com D. Isabel Henriques, filha do capitão de ginetes da casa real Fernão Martins Mascarenhas.
O terramoto de Novembro de 1755, destruiu-lhe o primitivo alpendre e a frontaria, que se reergueu a expensas do arcebispo de Évora D. Fr. Miguel de Távora, dentro do estilo barroco, lamentável e gritante concepção que destroi a severa mas digna pureza dos alçados gótico-manuelinos.
O interior, lançado em porporções magestosas, preanunciando, em exteriorização arcaica o sistema adoptado por D. João III e D. Sebastião nas igrejas-salões de três naves à mesma altura, distribui-se em sete tramos bem iluminados e divididos por pilares octogonais, de granito e capitelação fito-antropomórfica, que suporta abóbodas de nervuras acaireladas, presas por chaves circulares, naturalistas e armorejadas.
O presbitério, de atarracado arco-mestre, que descansa em pilares chanfrados, é de forma quadrangular e cobertura nervurada, com aranhiço guarnecido de bocetes redondos, igualmente compostos por cruzes da ordem de Cristo e folhagem exótica do estilo manuelino.
O retábulo, concebido dentro da tradição clássica, de madeira engessada e da ordem jónica, com equilibrado frontão triangular de reticulados imitando mosaicos renascentistas e ladeado por duas colunas caneladas, concentra curioso painel votivo, da tábua e pintura a óleo do ciclo maneirista italianizante, representando a CONVERSÃO DE S. PAULO NO CAMINHO DE DAMASCO (último quartel do Séc. XVI).
Nitidamente escolares portugueses são os painelinhos do friso da banqueta, dispostos como predelas horizontais e figurados por santos do agiológico lusitano: S. PEDRO, SANTIAGO COMBATENDO OS MOIROS, SANTO ANTÓNIO e SANTO BISPO.
A mesa do altar, no eixo da capela-mor, respeitando a disposição alterada pelo Concílio de Trento, está decorada por silhar de azulejos relevados, de padronagem trianeira de Sevilha, do tipo de corda-seca e de alvores quinhentistas.
Notável é o tabernáculo, obra de talha do estilo barroco com colunelos salomónicos, dourados (Época de D. Pedro II - D. João V).
Igreja da Misericórdia
A MISERICÓRDIA DE PAVIA, fundação visinha do ano 1560 e do padroado do fidalgo-lavrador Álvaro Arnauld de Sottomaior, sofreu obras estruturais (senão as primeiras definitivas), no começo do Séc. XVII, dentro do espírito da arte barroca provincial, representadas pelo singelo templo de alvenaria decorado pelo escudo das armas reais portuguesas.
Dispõe-se, interiormente, em corpo de nave com tecto de volta inteira aberto por caixotões geométricos, perolados, de curioso efeito ornamental, santuário de cúpula elipsóide assente em trompas lisas, e retábulo de colunata coríntia, de estuques imitando mármores embrenhados, modernos.
Igreja da S. Francisco
Outras fundações religiosas subsistem na vila e seu termo regional, particularizando-se a ermida de S. SEBASTIÃO, actualmente dedicada a S. FRANCISCO, por nela se ter instalado, no Séc. XVIII, a confraria dos veneráveis irmãos terceiros.
Fundada, presumivelmente nos derradeiros anos da centúria de quinhentos, sob padroado do vice-rei da Índia D. João Coutinho, titular da vila, que perdeu seu pai o 4º conde de Redondo na terrível batalha de Alcácer Quibir e onde ele próprio ficou prisioneiro dos mouros, pertence a período arquitectónico de transição clássico-barroca, com fachada reforçada por botaréus rematados de esferas.
O corpo interior, discreto, tem abóboda de volta redonda dividida por arcos torais de aresta viva e capela-mor cupular, elipsoide, assente em pendentes envieirados e artesões fechados pelo brasão primitivo das 5 estrelas dos Coutinhos.
Ermida de Santo António
Menor interesse artístico oferece a ermida de SANTO ANTÓNIO, situada no extremo ocidental da povoação, que instituida em época indeterminada do Séc. XVII chegou ao nosso tempo muito adulterada e com o retábulo perdido por repintura infeliz de 1932, que é constituído por políptico de oito tabuinhas da VIDA E MILAGRES DO SANTO TAUMATURGO PORTUGUÊS.
Capelas de S. Miguel e S. Gens
As capelinhas de S. MIGUEL e S. GENS, ficam no aro rústico, aquela, em ruínas, na margem direita do Freixo e esta, hoje consagrada à MADRE DE DEUS, na herdade da Tramagueira, com silhueta muito pitoresca e já existente no ocaso do reinado de D. Afonso VI.
Ponte da Ribeira de Tera
Medieval é, certamente, a ponte da Ribeira de Tera, que se rasga em garganta roqueira e melancólica da estrada para Avis, robustecida de arcos irregulares, reforçados, a montante, por gigantescos esporões truncados, graníticos e siglados.
A estrutura e aspecto actual da ponte foram recentemente alterados para alargamento do tabuleiro de circulação rodoviária, mantendo-se, como usualmente, o mau estado da estrada que se dirige a Avis.